Ego sum episcopus!
Pensava poder, em algum momento, anunciar a vocês, neste espaço: “habemus episcopum!” Mas, o anúncio veio de outra forma: “ego sum episcopus!” Eu sou o bispo! Deus surpreende e traça como quer seus planos e provisões. Isso pode parecer (como certamente haverá quem diga ou, pelo menos, pense) discurso de quem já sabia de tudo e finge estar surpreso. Não é meu caso. Tinha meus planos. Quando chegasse o bispo, recebendo ou não alguma tarefa no novo governo pastoral, pediria para ser vigário paroquial em algum lugar (sonho que pude realizar, por 24 dias, depois que Pe. Maia tornou-se o pároco da Catedral!). Tinha até uma listinha de paróquias e de padres amigos com quem eu gostaria de trabalhar! Coloquei Pe. Maia onde ele está hoje, para que eu pudesse ter tranquilidade de sair e deixar em boa companhia a nossa Catedral. Ele lá chegou, dia 02 de fevereiro, e eu fui comunicado, dia 11, da minha nomeação, tornada pública dia 26 de fevereiro. Na fantasia e na fala de alguns, talvez eu fosse chamado para ser bispo em algum outro lugar. Havia até nomes e apostas para possíveis bispos para nossa Igreja Diocesana. Alguns chegaram a garantir que era segura e certa a informação de um nome ou outro para cá. Havia quem me soprasse a diocese para a qual eu seria indicado. Fantasias e fantasias…
Agora estamos, ou melhor, continuamos juntos para sermos Pastor e Rebanho. No princípio, tendo dado resposta positiva à Nunciatura, ficaram a dúvida e o medo de como seria a reação e a acolhida a esta nomeação. Confesso que o que me curou disso foram as reações dos padres, leigos, lideranças e demais irmãos, que manifestaram alegria e acolhida, diante do “inesperado”. Agradeço imensamente àqueles e àquelas que, através de telefonema, mensagem, e-mail, whatsapp, facebook, recado, telegrama, carta ou pessoalmente, exprimiram-me seu contentamento e me prometeram suas preces. Deus haverá de nos formatar (segundo Cristo!) para esse ministério, junto ao seu bom povo, que está nesta diocese. Sei que, certamente, há também quem quisesse outro nome ou que até pensasse em outros padres do nosso clero para ocupar esta missão. E temos, sim, entre nós, padres de primeira linha e qualidade para esta tarefa. E creio que, oportunamente, veremos isso se concretizar.
Tenho dito que só há bispos de duas origens: os que vêm de fora e os que, sendo de dentro, são feitos bispos para a própria diocese. Não há uma terceira opção. Os que vieram de fora nos mostraram aqui que é possível amar até o fim. São invejáveis estes irmãos que saíram de entre os seus e vieram cuidar de nós. Agora é hora de construir-nos no outro modelo possível: de dentro para dentro. Meu sonho e desejo é que sejamos capazes de, sem constrangimentos e sem máscaras, conversar sempre, sobre tudo, em todas as circunstâncias, em tom familiar e amigo, resolvendo pequenos e grandes conflitos e imes. Se a diocese é teologicamente confiada a um bispo, auxiliado por seus presbíteros, diáconos e abundante presença de leigos, é verdade que, para mim, cabe melhor ainda a palavra “nossa”, nossa diocese, como esta confiada a mim, porque ela é “minha” duplamente: por origem e por missão. Precisamos dar certo, porque é nossa casa, é nosso futuro eclesial, são os nossos que estão em questão.
Convido a todos, irmãos e irmãs, a trabalhar com empenho, criatividade, senso crítico, corresponsabilidade, comunhão, profetismo, a fim de que possamos avançar nos grandes desafios pastorais de nosso tempo. Nossa diocese tem muito a fazer. Há muitas “periferias existenciais” precisando da presença materna e samaritana da Igreja. É preciso cuidar para dentro e para fora. É preciso estar onde ainda não estamos. É necessário construir pontes com os demais irmãos não católicos. É preciso estar presente nos lugares de decisão de nossas cidades. É preciso cuidar da natureza (olhem os rios Pará e Itapecerica, em Divinópolis, olhem os desmatamentos em toda parte, olhem a ação devastadora de mineradoras entre nós, olhem os desperdícios de água e alimento…). É preciso cuidar uns dos outros. Há muita dor desnecessária e prolongada. Há muita morte precoce. Há muita violência. Há muitas vidas em risco…
Ser bispo é olhar grande, é “olhar do alto”, não para comandar ou dominar, mas para tentar enxergar e socorrer a totalidade da realidade, dos irmãos, dos problemas. Já temos de sobra quem só vê o próprio umbigo. Estes são os que o Papa Francisco chama de autorreferenciais. Necessitamos de gente que, com Jesus, com a Igreja, com o bispo, olhe para fora, para o mundo, para as beiradas, para frente, tentando não deixar ninguém para trás, nem no esquecimento; Se nosso ministério episcopal e nossos projetos diocesanos e paroquiais, comunitários e pessoais forem marcados pela caridade pastoral, pelo olhar abrangente (sem miopias!), pelo espírito de comunhão e de parceria, pela fervente e fervorosa oração, pela confiança na Virgem Maria, teremos motivos para esperar o melhor.
Vamos continuar colhendo e saboreando o que outros plantaram, lançando outras sementes, que serão colhidas em outros tempos e por outros ceifadores. O importante, de verdade, é Aquele que faz crescer. Com os olhos fitos no Senhor, vamos construir a Igreja que devemos e queremos ser. Deus haverá de completar em nós a obra começada!
Monsenhor José Carlos Campos.
diocesano e bispo eleito de Divinópolis.