
Homilia de Dom Geovane na celebração dos 66 anos da Diocese de Divinópolis
“Esta é a ordem que o Senhor nos deu: Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra”.
Caríssimo irmão e amigo Dom Joel, queridos presbíteros, diáconos, vocacionados, religiosas e religiosos, leigos e leigas que atuam em nossa amada Diocese, hoje celebramos o nascimento de nossa Igreja Particular. E como disse há quase dois anos quando cheguei aqui, hoje repito com mais convicção ainda: nossa Diocese é a filha mais bela da Arquidiocese de Belo Horizonte e a neta mais charmosa da Arquidiocese de Mariana. Hoje Mariana, Belo Horizonte e Divinópolis se abraçam mais uma vez e juntas testemunham que ainda hoje a Palavra do Senhor se espalha por toda região e produz frutos vicejantes de serviço a Deus e aos irmãos.
Hoje também estreitamos nossos laços com a Igreja Universal, acolhendo com alegria e esperança o novo pontífice, o Papa Leão XIV, escolhido para conduzir a barca de Pedro no mar revolto da história humana. Amanhã, em Roma, terá início o ministério pastoral do novo papa. Acompanhemo-lo com a nossa prece. Peçamos ao Senhor que o abençoe para que conduza com firmeza e mansidão a Igreja de Cristo.
Recordamos também, com profundo e reverente afeto, o nosso saudoso Papa Francisco. “Laudato si Signore” Louvado sejas Senhor pelo precioso legado humano, espiritual e pastoral que ele nos deixou. Neste contexto de saudade e afeto recordamos também nosso primeiro bispo diocesano, Dom Cristiano Portela de Araújo e seus sucessores, irmãos queridos que nos precedem na missão evangelizadora nestas terras do Divino. Se recordamos aqueles que já estão participando da glória celeste, fazemos memória também dos irmãos e irmãs que hoje exercem a missão noutros lugares, mas estão vinculados à nossa Igreja Particular. Uma multidão de homens e mulheres atuando em nosso território diocesano. Bendito seja Deus por tudo isto.
Esta assembleia litúrgica é uma realização daquilo que ouvimos há pouco nos Atos dos Apóstolos onde se diz: “Quase toda a cidade (Diocese)se reuniu para ouvir a Palavra de Deus”. Somos aqui os representantes de uma multidão que vive a sua fé, trabalha, sofre e se alegra em nosso território diocesano. Representamos uma multidão desejosa de escutar o Evangelho.
Neste dia somos animados pelo testemunho de Paulo e Barnabé. Muito nos anima nesta hora a ousadia destes apóstolos. Ambos foram rejeitados pelos judeus, mas permaneceram fiéis ao mandato que haviam recebido do Senhor. Mandato que hoje é entregue a cada um de nós: Um mandato outrora dirigido a Paulo e Barnabé, na força do Espírito se atualiza no hoje da nossa história. E somos enviados! É o mandato do Ressuscitado dirigido a nós: “Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra”. Palavras do Profeta Isaías que ganharam um sentido novo após a ressurreição de Jesus Cristo.
Paulo e Barnabé se sentiam pequenos diante da grande missão, mas prosseguiram o caminho desejosos de anunciar o Evangelho aos pagãos. Tinham consciência de que não possuíam todos os recursos necessários e não possuíam luz própria, pois estavam cientes de suas próprias fraquezas.
Amados irmãos e irmãs, queridos presbíteros, o lugar que hoje ocupamos em nossas comunidades dever ser um hino de louvor a Cristo Ressuscitado e um serviço de amor aos irmãos e irmãs. Nunca nos esqueçamos: não temos luz própria. Cristo é a luz das nações, mas as iluminará somente através do testemunho dos apóstolos, e, porque não, através do nosso humilde, pequeno e corajoso testemunho. Brilhe em nós a luz de Cristo para podermos iluminar a noite do mundo. Esta é a missão da Igreja, como nos recordou recentemente o Papa Leão: a Igreja foi constituída em Cristo para ser um farol que ilumina as noites do mundo.
A iluminação da mente humana é obra do Espírito Santo nos corações que se abrem ao anúncio do Evangelho. Sozinhos jamais poderemos ser um farol para iluminar a noite do mundo. Somos uma pequenina lamparina que luta diante dos ventos fortes para se manter acesa. Sozinhos não conseguiremos iluminar o mundo. Divididos não iluminaremos o mundo. Somos uma pequenina lamparina, mas unidos pela fé nos apresentaremos diante do mundo como um grande farol que irradia a Luz de Cristo. Não nos deixemos levar pelo medo, desânimo ou descrença porque sempre haverá sede da Palavra de Deus no coração humano, pois existe sede de amor, verdade e beleza no coração das pessoas. Evangelizar hoje não é impossível, apenas diferente. O Evangelho é a verdade sempre nova que nunca cairá de moda, como bem nos recordou o saudoso Papa Francisco. Que ninguém em nossas comunidades seja privado do anúncio jubiloso do Evangelho, especialmente os pobres e vulneráveis.
A ousadia de Paulo e Barnabé transformou-se em fonte de alegria para muitos pagãos. Libertemo-nos do medo e sejamos ousados, confiando sempre no Senhor que nos chama, nos conduz pela mão e nos sustenta. Paulo e Barnabé levaram a Boa Nova aos pagãos. Eles ficaram contentes ao ouvirem a ordem que o Senhor havia dado aos apóstolos e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que eram destinados à vida eterna abraçaram a fé. Desse modo, a palavra do Senhor espalhava-se por toda a região.
O coração do ser humano é a terra onde a palavra de Deus produz os seus frutos. Se por um lado anima-nos hoje a coragem de Paulo e Barnabé, por outro, somos também motivados pela certeza de que existe no ser humano a sede de Deus, sede de amor e de verdade.
O apóstolo Filipe chamado ao seguimento diretamente por Jesus é o ícone da humanidade desejosa de um encontro autêntico com Deus. É o apóstolo que acolheu e expressou o desejo dos gregos que queriam ver Jesus. Agora é ele mesmo, Filipe, quem se dirige a Jesus e pede ardentemente para ver o Pai: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”. Filipe após conviver com Jesus percebe que ele não está falando de qualquer experiência religiosa. Não basta confessar um Deus poderoso demais para sentir sua bondade, grande demais e distante para sentir a sua misericórdia. Filipe percebe que Jesus deseja infundir-lhes algo novo e diferente. Por isso ele não hesita e pede ao Mestre: “Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta!”. Seu desejo corresponde ao desejo de Moisés: “Senhor, mostra-me tua glória” (Ex 33,18). É o desejo mais profundo de todo ser humano que traduz sua abertura ao infinito. A minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 42,3).
Irmãos e irmãs, na liturgia de hoje somos animados pela coragem dos apóstolos Paulo e Barnabéas, mas nos motiva também a certeza de que no coração das pessoas existe sede de Deus. O apóstolo Filipe é o ícone desta realidade. Portanto tenhamos coragem. Anunciemos o Evangelho sabendo que existe sede de Deus no coração do ser humano. E assim faremos obras maiores que as obras que Jesus realizou. Jesus disso isto no evangelho. Se nos unirmos a Ele, em nome dele, na amizade com ele. Se nos unirmos entre nós, como já disse, não seremos uma lamparina frágil, mas um farol que ilumina o mundo, dando testemunho de unidade, de fraternidade. Juntos realizaremos uma grande obra. A obra de Cristo que não nos pertence, da qual todos somos servidores. Parabéns a todos desta amada Diocese, ministros ordenados e leigos. Sigamos juntos revestidos da coragem dos apóstolos. Prossigamos o caminho desejosos de encontrar o Senhor. Vê-lo. E assim descobriremos o rosto do Pai. Porque Jesus é o rosto da misericórdia do Pai. Motive-nos sempre a coragem e nos anime sempre o desejo da comunhão com Jesus, porque quem o encontra, encontra o Pai. Eu e o Pai somos um. E quem o encontra, encontra a Igreja, sacramento vivo de amor que nasce do seu coração ferido. Obrigado a todos. Neste dia jubiloso, de festa e de alegria, a presença de cada um é motivo de ação de graças. Deus os abençoe copiosamente.
Dom Geovane Luís da Silva – Bispo Diocesano de Divinópolis
17 de maio de 2025, Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida